Interagir com a corrupção
Josué Maranhão Visite o blog do Josué - REATIVADO
BOSTON – Antigamente, mas há não mais do que trinta a quarenta anos, havia um ditado popular emblemático: - “No Brasil existem somente duas coisas sérias e organizadas: o Partido Comunista e o Jogo do Bicho”.O partido a que se refere o adágio não é nenhum dos partidos ditos comunistas que hoje existem. Era o antigo Partido Comunista Brasileiro, que tinha em seus quadros Luiz Carlos Prestes e outras figuras míticas. O “Pecesão” como era conhecido, atravessou a maior parte do seu tempo de vida na ilegalidade. Foi perseguido e esfacelado, mais de uma vez, com as prisões de seus líderes, desde os tempos da ditadura Vargas até à época da ditadura militar de 1964/1985.Apesar disso, era organizado. Podia-se até discordar inteiramente da ideologia, mas todos respeitavam o velho PC. O que equiparava o PCB ao Jogo do Bicho era principalmente a vida na ilegalidade e, apesar disso, a organização e a seriedade. Nunca se ouviu falar que alguém jogasse e ganhasse no Jogo do Bicho e, sem documento de maior valia, tenha sido enganado e não lhe tenha recebido o prêmio. O regime militar, além de castrar da história política brasileira mais de uma geração, extinguiu os partidos antigos que, apesar dos pesares, até mereciam algum respeito.Na redemocratização, os novos partidos políticos brasileiros, qual a humanidade na visão da igreja, nasceram marcados por um pecado original. O estigma que mancha os partidos atuais é, sem dúvida o fisiologismo. Com um detalhe: à medida em que cresce, quanto maior se torna, mais aumenta o sinal infamante. Prevalece sempre a deturpação da máxima da oração franciscana: - É dando que se recebe. Sem programas ou ideologias, os partidos se vendem em troca de cargos e outras migalhas que os governos jogam no chão, qual milho que se joga para as galinhas no terreiro. Aumentando o mercantilismo em igual proporção ao crescimento do partido, o PMDB se destaca. Deita e rola, como o maior partido. Nos balcões de negócios adere ou desadere, conforme lhe sejam oferecidas vantagens, notadamente cargos públicos. O que se assiste no momento, no entanto, extrapola todos os parâmetros. Contando o ministério da Saúde como parte de sua cota, nos acertos espúrios do adesismo, pretende agora o PMDB que seja demitido o ministro José Gomes Tinhorão. Planeja, certamente, substituí-lo por um apaniguado, maleável e, quem sabe, um corrupto. Gomes Tinhorão, dizem os mais abalizados e isentos observadores, é um dos dois ministros, integrantes do imenso batalhão de auxiliares diretos montado pelo presidente Lula, que merecem respeito. O outro é o titular da pasta da Educação, Fernando Haddad. Na realidade, se mais não fizeram ou não fazem, debitem-se as falhas na conta da burocracia e da falta de seriedade daqueles que controlam as portas dos cofres da União. A sanha do PMDB agressivo contra o ministro Tinhorão, exigindo a sua saída da pasta da Saúde, é nada mais do que uma reação de apoio à corrupção e à ineficiência. O PMDB, que teve como embrião o glorioso MDB do dr. Ulysses, Franco Montoro e outros respeitáveis, suja a sua história, mais uma vez, pleiteando a degola do ministro Ramos Tinhorão. A atitude peemedebista é única e exclusivamente uma represália às suas declarações, apontando a ineficiência e corrupção na Fundação Nacional de Saúde e o seu propósito de mudar a diretoria e subordinar a entidade diretamente ao gabinete ministerial. Ocupada a chefia daquela Fundação por um indicado do PMDB, sentiram-se ofendidos os dirigentes partidários. O preço cobrado para manter-se no redil governista é a substituição do ministro Tinhorão, embora tenha sido ele indicação peemedebista. A jornalista Dora Kramer, em sua coluna no jornal “Estado de S. Paulo”, domingo, deu bem a dimensão do absurdo, quando transcreve declaração do líder do PMDB na Câmara dos Deputados. Ao justificar a atitude do partido, pedindo a degola do ministro da Saúde, teve ele a veleidade de dizer: “Reconhecemos em Temporão um técnico muito conceituado, mas ministro é também função de liderança política. É preciso saber ouvir, interagir, respeitar e ter a sensibilidade da boa convivência”.A dubiedade da declaração do líder revela e amplia a imagem do que é o partido e do que existe na cabeça dos seus dirigentes. É um sofisma usado na tentativa de encobrir a verdadeira razão do pedido de demissão de Tinhorão.Quando ele diz que o ministro precisa “interagir, respeitar e ter sensibilidade da boa convivência”, na realidade, procura encobrir o exato sentido do que se passa no intestino partidário. O ministro, além de competente e honesto, precisaria compactuar com a roubalheira. É este um requisito indispensável para que o partido mantenha o apoio e a indicação que fez. Há que se fazer justiça, no entanto, ao PMDB. O fisiologismo, o mercantilismo, a disposição para as negociatas políticas não são exclusividades suas. Infelizmente, o que os tempos vêm revelando é que são esses os requisitos essenciais à existência de todos os partidos brasileiros, sejam governistas hoje, ou sejam oposicionistas agora, mas foram governistas ontem. Apenas, no caso do PMDB, a sua magnitude, aumentada com os resultados da recente eleição municipal, parece impor que os seus dirigentes extrapolem todas as medidas do bom senso e da honestidade política. Terça-feira, 18 de novembro de 2008
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