Entrevista19/12 - 19:00
Ricardo Simões Barata - Presidente da Acrioeste
Entrevista concedida ao repórter Sérgio Toledo
São Paulo, 19 de dezembro de 2008 - O oeste da Bahia tem potencial para dobrar o tamanho do atual rebanho de gado. A região possui cerca de 2 milhões de hectares de pastagem, com 2 milhões de cabeças, sendo que maior parte das terras está nas mãos dos pequenos e médios produtores, que representam 80% do segmento da pecuária da região.
O presidente da Associação dos Criadores de Gado do Oeste da Bahia (Acrioeste), Ricardo Simões Barata, em entrevista exclusiva durante a Fenagro 2008, em Salvador, afirma que o oeste baiano vai crescer em cinco ano o que não cresceu em 20 anos.
Para isso, a região terá que enfrentar problemas como os frigoríficos clandestinos. Segundo Barata, o abate clandestino discredibiliza a Bahia perante aos outros mercados e impede o que o estado inicie um processo de exportação.
Investnews - Como está a pecuária no oeste da Bahia?
Ricardo Barata – A pecuária no oeste da Bahia vem crescendo de forma muito acelerada, tanto na questão quantitativa, quanto na questão qualitativa. O rebanho, de 2002 a 2007, cresceu em 500 mil cabeças e, hoje, são cerca de 2 milhões de animais. A pecuária é, em 99%, feita em sistema extensivo a pasto. Do total 95% é de Nelore ou anelorado. Até dois anos atrás a região era exportadora de bezerro, principalmente para outras cidades do Recôncavo Baiano, como Feira de Santana e Itapetinga. Com a implantação do frigorífico, que opera com uma pauta de 1,8 mil cabeças por dia, boa parte dos bezerros e boi magro que saiam, permanecem na região.
Investnews - O frigorífico está em qual cidade?
Ricardo Barata – Fica em Barreiras, que é o centro de referência do oeste. Há cidades que crescem com pujança maior, como Luis Eduardo Magalhães, com a febre da agricultura, mas o centro de referência médica, comercial e empresarial é Barreiras.
Investnews – Qual é o potencial de crescimento da região?
Ricardo Barata – Em pecuária, temos condições de dobrar o rebanho. E não estamos falando em desmatamento. Temos área e pastagem para utilizar com tecnologia.
Investnews- E o que falta para dobrar o rebanho?
Ricardo Barata – Investimento. Os grupos estão chegando lá. O Jacarezinho (Agropeucária Jacarezinho) está instalado lá, assim como o Nelson Pineda (pecuarista). Nós da Acrioste percebemos o interesse de grupos empresarias da pecuária do Brasil e até de fora do País na região. O que falta é levar esses investidores de pecuária para a região. É o que a Acrioste faz, participando de feiras e fomentando a atividade no oeste da Bahia.
Falta quem já está lá partir para a gestão empresarial, com uma pecuária profissional, como a agricultura é. A agricultura já passou anos-luz na frente da pecuária em termos de tecnificação e profissionalismo e lá não é diferente. Mas com a chegada desses grupos e com a necessidade de profissionalização, ou você sai do mercado, já vemos uma mudança no cenário. Quem não se profissionalizar, não vai ficar no setor.
Investnews- Qual é a área e quantos produtores existem no oeste da Bahia?
Ricardo Barata – Há algo em torno de 2 milhões de hectares de pastagem. Mas há pastagem degradada. Poucas propriedades trabalham com a pastagem adubada corretamente e com manejo rotacional. Boa parte das terras está nas mãos dos pequenos e médios produtores, que representam 80% do segmento da pecuária da região. E eles ainda não têm condição de aplicar tecnologia. Aí entra o processo de política pública, de linha de crédito, para poder alavancar a atividade. O pequeno e médio produtor entra nisso, ou ele é médico, advogado, engenheiro e não precisa do resultado econômico da fazenda para se manter, se não fica fora do processo.
Investnews – Quais as principais dificuldades?
Ricardo Barata – Temos alguns gargalos. O principal é a comercialização. Temos apenas um frigorífico e o menor preço de arroba do País. Quem regula o mercado é a oferta e a demanda. Levamos para lá o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea) para fazer um estudo de índice de preços. Nos próximos três meses, teremos um índice de preços do oeste da Bahia. E isso muda, já que teremos uma afirmação científica, feita por uma metodologia aprovada, que funciona em todos os outros estados e por uma instituição credibilzada em todo o País.
Investnews – A entrada de agricultores na pecuária favorece a atividade?
Ricardo Barata – Muito. É a partir daí que vai ser a grande alavancada do oeste da Bahia. A Acrioeste está dentro da Associação de Agricultores e Irrigantes da Bahia (Aiba). E com o convívio percebemos que os agricultores estão entrando na pecuária. E estão entrando de forma grande. O agricultor quando pensa em pecuária ele cita 10 mil cabeças. E o pecuarista, na grande maioria, não pensa nesse número.
Já existem confinamentos implantados no cerrado. Para situar, no oeste há o vale, onde tem pouca agricultura, e o cerrado, que é o inverso, onde tem muito agricultura e pouca pecuária. O cerrado hoje tem 400 mil hectares de pecuária, o restante está no vale. Mas existe uma oferta muito grande de resíduos da agricultura, como caroço de algodão, quirela e casquinha de soja, sorgo, que os agricultores perceberam que podem transformar em carne. Já existem projetos de confinamentos que serão estudados e vão ser implantados. É claro que serão implantados de forma escalonada, começando com 10 mil cabeças, mas são plantas de 50 mil cabeças.
O modelo que acreditamos que o oeste vai encontrar é o vale produzir bezerro, cria e recria, e o bezerro sobe para o cerrado para o agricultor terminar. O agricultor tem muito mais competência de terminar esse bezerro do que o pecuarista.
Investnews – Como se dá esse processo?
Ricardo Barata – O agricultor tem todo o subproduto da agricultura, que é muito rico. E é muito mais barato levar o boi a comida do que a comida ao boi. E os agricultores estão se juntando para montar confinamento em um esquema “pés no chão”. São instalações práticas, simples e funcionais. Não só em parcerias, mas produtores individuais também.
Eu costumo dizer que a pecuária do oeste da Bahia vai crescer em cinco anos o que não cresceu em 20. A cana-de-açúcar em São Paulo está empurrando o pecuarista para cá. Existem muitas oportunidades interessantes. Ainda há terra com preço justo.
Investnews – Com esse desenvolvimento da região, há a expectativa de atrair mais frigoríficos para a região?
Ricardo Barata – Eu acho que isso vai acontecer. Já recebemos a visita de representantes dos principais frigoríficos do Brasil. E temos mostrado o potencial da região. Com o avanço que a região vai ter, é inevitável que outras plantas sejam instaladas. Até porque o frigorífico que está lá não tem condições de atender essa demanda.
Investnews – Qual é o frigorífico que está instalado lá?
Ricardo Barata – É o Fribarreiras. Mas o foco é couro. Fizemos uma matéria no jornal da Acrioeste, na qual mostrava que o boi do oeste da Bahia era o mais barato do Brasil, será que o pior gado é o nosso também? Os frigoríficos alegam qualidade e regularidade, coisas que alegam em qualquer lugar. Mas algumas fazendas grandes do oeste venderam gado para o Mato Grosso e Goiás. E a notícia que obtive recentemente que os animais do oeste são as cabeças de ponta desses confinamentos. Ou seja, será que não tem qualidade ou quem tem qualidade acha preços melhores em outros mercados e não fica lá.
Investnews – E os clandestinos? Existem muitos?
Ricardo Barata – Muitos.
Investnews – E como isso atrapalha?
Ricardo Barata – Isso é um retrocesso em todos os aspectos. Nós estamos falando aqui de saúde pública. Não só no oeste, mas na Bahia toda.
Um criador que tem 40 animais, em uma cidade há 200 km do frigorífico, e para atender uma doença da mulher ou para fazer uma feira precisa matar duas vacas, não tem condição de embarcar os dois animais em um caminhão, levar para o frigorífico, abater e voltar. E nem o frigorífico vai buscar duas vacas.
Mas o matadouro municipal não vai resolver, porque fica na mão da gestão pública e acaba sendo um clandestino legalizado, pois não vai atender as normas. Pode até atender no começo, mas depois vem um processo de desgaste. É preciso estudar uma solução. Aí entram as cooperativas e sindicatos montando escalas para que quem tenha menos animais levem até algum ponto. O abate clandestino discredibiliza a Bahia perante aos outros mercados e faz com que a gente não cresça para se candidatar a exportação. A Bahia não exporta, mas já deveria estar exportando.
Investnews – Com a crise houve aperto de crédito ao produtor?
Ricardo Barata – Até agora não. Aí falo como pecuarista. Eu trabalho com linha de crédito do Banco do Nordeste do Brasil (BNB) e, recentemente, quitei um projeto e me habilitei novamente. Fiquei surpreso com a taxa, que permaneceu a mesma de um projeto que fiz há dois anos.
Talvez vamos perceber no primeiro trimestre de 2009. Mas mais do que nunca é necessário apoiar o setor produtivo. Se o outro setor, que trabalha com mercado futuro e especulação não se sustenta e vive em razão do produtivo, se o produtivo desaba estamos arruinados. E o governo tem que criar políticas públicas para apoiar o produtor e dar suporte. Mas apoiar projetos viáveis, porque muito projeto de agricultura familiar para onde é liberado crédito, porém sem acompanhamento, e aí o agricultor tem que se virar para pagar, a partir do momento que a pessoa não teve capacidade de tocar o projeto.
Não é só o crédito. Precisa de assistência. Há algumas coisas erradas. O pequeno produtor não tem capacidade de fazer recria e engorda; Nem os grandes, às vezes, têm competência para fazer. Isso demanda uma tecnologia muito grande para ser competitivo.
Se é um pequeno produtor, vamos introduzir caprino e ovinocultura ou pecuária leiteira, que todo dia tem giro constante de dinheiro. Como é que mantêm o custeio de um negócio que vai demorar dois anos? Se você dá o dinheiro para ele, ele gasta com outras coisas. E se não dá assistência, piora ainda mais.
Investnews- Falta acompanhamento?
Ricardo Barata – E faltam projetos que estejam dentro da classe de cada um. Não adianta pensar em pecuária de corte em baixa escala. Não resolve para ninguém.
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