Domingo, 23 de Outubro de 2011 - 10:00
Coluna A Tarde: Sob o signo da corrupção

Não haveria (ou não há) outra decisão para a presidente Dilma Rousseff senão afastar o ministro Orlando Silva do cargo, mesmo que houvesse (ou haja) dúvidas, a não ser que tenha comprovada consistência de verdade, o que parece não ser o caso. A presença do ministro no governo e seus embaraços com pessoas desqualificadas, militantes também do PC do B, geraram para a presidente um desconforto que ela não poderia, nem deveria, sustentar. Ao chegar da sua viagem à África, uma das suas primeiras decisões foi convocar uma reunião de análise do quadro com a coordenação política do governo.
Os integrantes do núcleo discutiram a questão com Dilma, já com uma posição tomada. Em política, não vale o brocardo jurídico in dúbio pro réu, mas, sim, in dúbio pro Estado, para não acentuar o desgaste e estabelecendo uma situação política irreversível. Sozinho, isolado, a não ser por seu partido, na medida em que os demais atores do escândalo são, ou foram, também do PC do B, inclusive o governador do Distrito Federal, Agnelo Queiroz. Orlando Silva é conseqüência do desleixo com a ética, com a permissibilidade e a ausência de punição a corruptos que se verificou no governo anterior.
É justo, no entanto (o afastamento não tinha se concretizado, ao findar este comentário, mas era dado com questão de tempo), que o cargo permaneça com o PC do B. Trata-se de um partido que beira os 90 anos, de larga tradição e de grandes homens, com destaque, dentre outros, para João Amazonas. O que acontece no cenário político brasileiro é um galopante desgaste dos partidos políticos, a começar pelo PT que, nem de longe, lembra a legenda com viés ético acentuado, que nasceu há 31 anos nas portas das fábricas do ABC paulista, a partir de um movimento liderado pelos metalúrgicos, pelas Comunidades Eclesiais de Base e intelectuais paulistas.
Foi a época em que a liderança de Lula ganhava força nos comícios relâmpagos sobre carrocerias de caminhões, ao amanhecer nas portas das indústrias, quando os operários, a caminho do trabalho, paravam para ouvir a sua pregação. Surgia, assim, um fato novo na política brasileira, ainda sufocada pela ditadura militar que logo, logo, entraria na sua total decadência. Havia o PMDB com Tancredo Neves, Ulysses Guimarães e outros vultos, assim como iria surgir, já no processo constituinte, o PSDB desgarrado do PMDB, com nomes ilustres, entre os quais Fernando Henrique Cardoso e Mário Covas, para apenas citar dois.
Os anos 90, que amanheceram com Collor no poder, iniciaram um processo de corrupção que não cedeu com o impeachment. Ganhou força na última década e hoje está instalado nos três poderes da República. Assim, o combate que Dilma enfrenta não pode arrefecer, nem esperar porque o que já aconteceu não se desfaz nem desaparece. Melhor mudar. É a saída visível.
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